De produtoras rurais a confeiteiras, histórias de coragem e inovação revelam como o protagonismo feminino vem transformando a economia do Espírito Santo
No Espírito Santo, o empreendedorismo feminino vem se consolidando como um movimento de transformação social e econômica. Seja no campo, na cozinha ou no comércio digital, mulheres estão abrindo caminhos, desafiando estereótipos e inspirando outras a fazer o mesmo. Dados do IBGE, no fim de 2024, mostram que cerca de 34% dos empreendedores brasileiros são mulheres, que vêm se destacando em negócios locais, com inovação, propósito e coragem.
Para Juliene Fonseca, coordenadora do curso de Administração da Estácio no Espírito Santo, a ascensão feminina no empreendedorismo é resultado de uma combinação de fatores.
“A busca por independência financeira, a necessidade de conciliar carreira e vida pessoal e o desejo de transformar talentos e paixões em oportunidades de negócio têm impulsionado esse movimento”, explica. “O acesso facilitado à informação e às redes digitais também tem permitido que mais mulheres se capacitem, inovem e alcancem novos públicos”, finaliza.
Entre as capixabas que simbolizam essa força está Ana Paula Martin, administradora e produtora rural em São Mateus. Depois de deixar um cargo na indústria do petróleo, ela assumiu a Fazenda Lagoa Seca, transformando o cultivo de especiarias em um negócio de referência nacional. Na fazenda são cultivadas e processadas especiarias como pimenta-do-reino, pimenta-rosa, pimenta da Jamaica, além de macadâmia, café e mamão. A propriedade também inova na criação de itens diferenciados, como o doce de macadâmia com pimenta da Jamaica, o gelato de macadâmia, a pimenta-rosa em pó e o óleo essencial da pimenta da Jamaica. Hoje, Ana Paula é a maior produtora e fornecedora de pimenta-rosa e uma das principais vozes femininas do agronegócio no estado.
“De tudo que vivi, o mais importante foi nunca ter deixado de acreditar. Hoje vejo mulheres se emocionarem com minha história, pedirem dicas, elogiarem minha estrutura. Isso me dá certeza de que valeu a pena continuar”, afirma.
Ana Paula construiu sua autoridade no setor e segue inovando. “Estamos prestes a lançar um produto inédito no Brasil, que já existe na Europa. O Sebrae/ES tem me acompanhado desde o início, ajudando desde a certificação até o design dos rótulos e em breve vou poder explanar qual produto é, mas acho que as pessoas vão gostar”, revela.
Outra história inspiradora é a de Mirele Romano, também moradora de São Mateus e empreendedora na área de confeitaria. Após um período afastada da produção, ela retomou seu negócio graças ao projeto Central de Valores, iniciativa da CUFA/ES com apoio da Suzano, voltada para capacitar mulheres de comunidades vulneráveis.
“Esse foi o pontapé que me fez voltar a produzir e trouxe de volta a minha fonte de renda. Hoje, tenho um público fiel, consigo organizar meu próprio horário e ainda passo mais tempo com meus filhos”, conta Mirele, que divulga suas criações pelas redes sociais (@mrconfeitariaartesanal1).
Ainda há desafios a superar
Apesar de conquistas como essas, Juliene Fonseca lembra que ainda há desafios a superar.
“O acesso ao crédito continua sendo um obstáculo, e muitas mulheres ainda têm dificuldade em se inserir em redes de apoio e mentoria. Além disso, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional segue sendo um desafio, já que muitas acumulam múltiplas jornadas”.
Mesmo assim, a docente enxerga um cenário de transformação.
“As mulheres trazem uma visão sensível, colaborativa e ao mesmo tempo estratégica, que tem impulsionado novas formas de gerir, comunicar e se relacionar com o mercado. Elas inovam não apenas em produtos e serviços, mas na maneira de conduzir equipes e construir negócios com propósito e impacto social”.
No campo, na cozinha ou no escritório, o que une Ana Paula, Mirele e tantas outras mulheres é a vontade de fazer a diferença, prosperar e provar que o empreendedorismo feminino, além de ser possível, é um componente importante para o desenvolvimento do Espírito Santo.



